QUASE TUDO SOBRE EVA

Quase Tudo Sobre Eva é obviamente um espetáculo sobre mulheres. E elas podem ser tudo, menos óbvias. Ser mulher é ser incompreensível, é ser interna, é ser útero. Ser roxinha é ser danada. Quase nenhum homem jamais entendeu realmente, o orgasmo múltiplo, a linguagem das flores ou a dor do parto. Mas Federico Garcia Lorca entendeu quase tudo. Ele que é o mais famoso dramaturgo espanhol do século XX, grande poeta,.-homossexual, assassinado por sua luta libertária, dedicou sua obra a elas. Ali estão as noivas, as mães, as rapari­gas, Bernardas, Rositas, sapateiras, Yerma. Entendeu, como ninguém, a riqueza e a complexidade da alma feminina, reprimida por uma sociedade que enjaulava seus desejos e os esquecia.
Quase Tudo Sobre Eva é uma brincadeira com o título em inglês do filme "All About Eve" ou Tudo Sobre Eva, que na versão nacional ganhou o nome de "A Malvada". Uma brincadeira e uma homenagem, se não por ser um de meus filmes favoritos, por ser um filme sobre atrizes. A outra inspiração para este espetáculo foi a música do grupo paulista (só de mulheres, é claro) Mawaca, que fez com que a sonoridade, os cenários e os figurinos misturassem a Espanha de Lorca ao nordeste brasileiro, numa fusão danada da peste!
Espanha, paixão, sangue, música! O projeto de encenar Lorca era antigo e eu já não esperava mais realizá-lo, mas como a vida não tem roteiro ... veio o convite da CAL para dirigir a turma de formandos deste ano: 02 atores e 15 atrizes! E então, não tinha mais desculpa. Esse convite me deu também a oportunidade de trabalhar pela primeira vez numa escola de teatro. Não sou um ator ou diretor acadêmico. Nunca fiz escola. Era um desejo antigo não realizado. Não é mais. Obrigado a direção e a equipe da CAL, ao Nello, Filomena, Fabiano, Carlinha, Wilson, Cris, Márcia e aos atores ... ah, os atores ... nossa profissão é cheia de peculiaridades, estamos sempre ganhando famílias novas e nos despedindo de outras. Vocês foram uma família linda e já sinto saudades. Nunca esqueçam: Não há lugar melhor para um ator do que o palco. Só no palco se pode ser plenamente feliz.
Merda!

João Fonseca